A paixão por cinema, a produção coletiva e independente, o diálogo em sala de aula e formas alternativas de democratização da produção marcaram o debate no terceiro dia da Semana do Audiovisual Baiano Contemporâneo. Com o tema “Cinema de Coletivo: modo de produção e estrutura de trabalho”, representantes dos coletivos Êpa Filmes, Gaiolas, Rosza Filmes Produções e Coletivo Urgente de Audiovisual (Cual), compartilharam com o público presente na Sala Walter da Silveira, na terça-feira (23), suas experiências na criação dos coletivos e a dinâmica de suas produções.
Ramon Coutinho, integrante do CUAL, explicou que os trabalhos são sempre desenvolvidos por todos do grupo. “É necessário uma dinâmica de trabalho onde não haja hierarquia de função. Há funções, mas não há uma hierarquia. Esse processo é interessante não só por agregar profissionais que se interessam por audiovisual, mas por reunir pessoas que se gostam. Existe uma relação afetiva muito forte e nessa relação já fizemos 15 filmes, alguns deles já foram para festivais fora da Bahia. A gente sempre procura disseminar para que nossos trabalhos cheguem aos cineclubes, festivais, centros culturais, onde exista a possibilidade de debates, pois eles são tão importantes quanto à exibição dos filmes”.
Murilo Deolino (ÊPA) contou que o coletivo ÊPA surgiu de conversas com os primeiros integrantes que começaram a trabalhar na Dimas (Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado) e da necessidade de produzir outros conteúdos e ideias. “A partir das nossas conversas começamos a produzir curtas metragens. Temos três curtas finalizados e três em processo de finalização. O curta “O Menino Invisível” já participou de mais de 10 festivais nacionais e internacionais, com premiação no Festival de Cinema Baiano e menção honrosa no Chile”.
Já Ohana Almeida, do Coletivo Gaiolas, disse que o grupo surgiu a partir de uma produção, dialogando teatro e cinema, com o intuito de trabalhar as questões de gênero e linguagens sexuais: “a gente vive num recorte do Recôncavo que nos permite ter um diálogo muito íntimo tanto nosso quanto com a cidade. Trabalhamos com a ideia da desconstrução do que a sociedade impõe. O trabalho do Gaiola é pensar em como ultrapassar esses limites”.
Uelter Ribeiro (+ 1! Filmes) falou da experiência de trabalhar na Internet. “Nosso projeto é trabalhar com a Internet e tem dado certo. Hoje nossos filmes têm muitas visualizações nos nossos canais”. O coletivo Rosza Filmes, representado por Glenda Nicacio, revelou que o grupo se reuniu pela vontade de produzir filmes em São Felix(BA). “Chegou uma hora que a gente sentiu a necessidade de focar e ficar no Recôncavo. Não queríamos vir pra Salvador, então começamos a pensar em estratégias para viabilizar o processo de produção lá. Hoje nós trabalhamos com duas linhas: a produção cinematográfica e formação. Passamos a formar grupos para cursos, oficinas e workshops, com o intuito de formar atores e profissionais”.
A segunda mesa do dia abordou as”Alternativas de distribuição e exibição do audiovisual baiano”. O professor Guilherme Sarmento, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), falou sobre o projeto Rede Nordeste do Cinema Universitário, que tem a proposta de fazer com que as universidades nordestinas tenham um circuito para intercâmbio. “Nossa ideia é elaborar eventos anuais, com lançamentos de filmes e curadoria com alunos, professores e técnicos de cada Estado, com seleção de filmes e premiações para que os trabalhos tenham visibilidade”.
Em relação à distribuição e exibição, Sarmento disse que as exibições conseguem ser feitas através de festivais, mas a distribuição é ainda um problema a ser discutido. “A distribuição tem que ser pensada de maneira racionalmente para que a produção chegue até o público a que se destina, seja experimental, comédia romântica ou qualquer outro estilo. Tem que se ter pesquisa de público e novas maneiras de unir cinema com publicidade, enfim mudar”. O cineasta Josias Pires, diretor do filme Cuíca de Santo Amaro, relatou como conseguiu uma satisfatória distribuição do seu filme no interior do Estado. “A ideia é propor circuitos alternativos de distribuição, como festivais nacionais, internacionais, distribuição nas escolas, desbravando caminhos difíceis inicialmente, mas o que não pode deixar de acontecer é a articulação direta com o público, já que a gente sabe que o circuito comercial nem sempre é viável.”
O debate continua nesta quarta, 24, na Sala Walter da Silveira (Barris), com mesas, às 17h, sobre “Formação em cinema na Bahia” e, às 19h, sobre “História e memória do audiovisual na Bahia”. A Semana do Audiovisual Baiano Contemporâneo segue até domingo, 28, com debate e exibição de cerca de 100 filmes produzidos na Bahia neste século XXI. Essa é mais uma realização das secretarias estaduais de Cultura e de Comunicação/ Irdeb e da Regional Bahia e Sergipe do Ministério da Cultura, com apoio de várias instituições parceiras.
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